A dificuldade em escrever alguma coisa, desenvolver alguma idéia nesses últimos tempos, só pode ser reflexo dessa sensação de incerteza e vazio que assola o meu viver.
Não sei se já comentei, mas estou de volta à condição de desempregada e, para ser franca, nem sei bem por que ou como isso aconteceu. Claro, tentei buscar razões, refiz caminhos, falei com pessoas, busquei em suas histórias algo em comum com a minha e... não é que eu encontrei.
Quando este tipo de coisa acontece, você pensa: por que eu não soube disso antes? Mas este é mesmo o curso das coisas e, como me disse uma amiga num desses encontros ao acaso, numa longa madrugada de conversa, as mudanças vão acontecendo e você só percebe a transformação depois mesmo que ela se completa. E foi só depois que tudo se deu que eu pude parar e pensar: quando você está submetida e subordinada a pessoas que utilizam de forma leviana o “poder” que têm sobre você, com aquela certeza estúpida de sempre ter razão em tudo, o que a lógica dessas pessoas espera é que seus subalternos se resignem, pois afinal, eles podem ditar sobre seu destino, se você continua ou se você pára. Sua voz só é ouvida se trouxer melhorias e se essas melhorias puderem ser convertidas, a curto prazo, em ganho capital.
Mas eu já sabia que isso acontecia. Sabe, naquilo que vi escrito nos livros, no que vi noticiado nos jornais e até mesmo na história de algum infeliz, à qual não dei muita importância.
E o poder exercido pode ser assim traduzido: eu pago pelo seu silêncio, eu pago pelo meu conforto de não querer ouvir suas reivindicações e, com esse gesto, reforço aos demais qual seu lugar e que lá devem ficar.
E assim mesmo não compreendo, quer dizer, não basta fazer as coisas do jeito certo, ter um bom desempenho, não desarmonizar o ambiente. Além disso, ou talvez mais importante que isso, é desejável que não alimente nenhuma ideologia.
Não dá para ter ideologia, nem mesmo a de não se deixar ser enganada. Afinal, não podemos se orgulhosos à esse ponto, não é? Bem, agora, meu caminho foi desvirtuado pelas mãos ludibriantes do lobo em pele de cordeiro, meus planos foram desfeitos, conquistas tornaram-se dúvidas...
E sentindo como se mais uma vez a dura realidade desses tempos me puxasse para dentro de suas entranhas, voltei, desta forma, ao limbo, como uma alma sem rumo, desorientada.
Ademais, me pergunto: quanto tempo vive uma vida de esperanças quando as certezas se recolhem às mãos dos porcos chovinistas?
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