sexta-feira, 30 de abril de 2004

Não, essa foi demais. Dentre os vários absurdos que a gente é obrigado a ver, ler e escutar pelos meios de comunicação, o mór foi o e-mail promocional que recebi de um novo produto, um creme que promete tornar a mulher que usá-lo o pedaço de carne mais atraente do pedaço.
Pois é, trata-se de um creme adicionado de FEROMÔNIOS que atraem, por meios obscuros (pelo menos pra mim), os machos da nossa espécie. Acho isso no mínimo uma covardia e, sem dúvida, uma puta sacanagem, e por razões óbvias.

Já não bastassem todos os apêndices que a mulherada anda lançando mão para ver se laça um garanhão, tipo plásticas, liftins, próteses, maquiagens, implantes, etc., que as tornam uma grande mentira ambulante, mas que pelo menos ainda davam uma chance a posteriori de serem desvendados pelos pobres homens - embora sempre haja os gostam de ser enganados - agora surge essa nova onda que apela para os instintos mais arcaicos da espécie para satisfazer esse outro instinto mais forte na fêmea que é mostrar que ela é a melhor dentre todas para ser comida.
Mas mal sabem as fêmeas que a ditadura da beleza está afastando cada vez mais suas possibilidades de arranjar um macho e, pior que isso, mantê-lo junto de si. Vi hoje num documentário sobre beleza e relações matemáticas que uns cientistas constataram que hoje em dia a oferta de pessoas belas em revistas, outdoors, tvs, livros, desfiles, concursos e etc., "cria" nos homens a sensação de que ele pode encontrar lá fora coisa melhor do que o que ele tem em casa. E como ao mesmo tempo as mulheres vão procurando cada vez mais superar as outras nesses quesitos físicos, está decretado o fim da monogamia na nossa espécie. Pois é fato que o amor está sendo superado pela hipertrofia muscular.
Só para embasar essa colocação, uma outra pesquisa comentada na CBN (a rádio que toca notícia), mostrou que o que atrai os homens em primeiro lugar é sim a bunda. E para as inglesas, o que as atrai nos homens são os sapatos.
De tudo isso concluo que certa estou eu que sou lésbica, pois não estou nem aí para os homens que também não tão nem aí para mim, e a oferta de mulheres fica cada vez maior e de melhor qualidade. E vou consolar todas as largadas, pois não há coisa melhor do que outra mulher para entender os sofrimentos da fêmea da nossa espécie.
Espécie que se continuar se baseando em conceitos tão vis, vai dar origem a uma nova linhagem de seres lindos e vazios.

quinta-feira, 22 de abril de 2004

No embalo deste rítmo louco e alucinante em que está minha vida, tenho tido muito aquele sentimento de que "ignorância é felicidade".
Lembro-me bem de quando não tinha muitas razões para pensar nos acontecimentos da minha vida como sendo nada mais do que consequência da minha falta de experiência, da minha burrice ou da minha incompetência. Tudo se explicava porque eu era feia, gorda e não sabia conversar.
Pois é, bons tempos esses, quando nada do que dizia respeito à psicanálise poderia explicar o meu triste lugar no mundo.
Mas agora já era, tô com isso, esses conceitos e paradigmas para sempre encrustados na minha cabeça, como as cracas que ficam coladas ao redor dos olhos da baleia.

E assim como a baleia não tem mãos para simplesmente arrancar aquilo da cara dela, eu também não posso simplesmente esquecer tudo o que apre(e)ndi depois de uma faculdade de Psicologia.
Um exemplo de como isso "contamina" o nosso olhar sobre as coisas foi numa exposição que visitamos lá em Porto Alegre. Tinha uma instalação entitulada "A grande cuia" que era basicamente um monte de cuias grudadas pela boca que tomavam a forma de uma estrela de várias pontas. Para pessoas "normais" aquilo era o que era, mas depois, discutindo com dois amigos "psis", um deles comenta: "O que era aquele monte de chupeta grudada, parecia um bico de peito... Eu falei: "Não, eram cuias (só porque eu tinha lido o nome da instalação é que consegui deduzir, porque tinha tido a mesma primeira impressão). Daí ele falou: Puta... já tava vendo um monte de peito, "seio bom, seio mal, vixe"... E foi então que concluímos que já era, não tinha mais jeito, estávamos fadados a olhar para o mundo daquele prisma, com aquela lente que quer enxergar o que há por detrás e tal.
Bem, e como também não tem um botãozinho para acionar ou não essa lente, às vezes fico vendo mais do que gostaria em algumas situações. É claro, as que dizem respeito à mim, ao meu jeito louco e alucinado de lidar com os tais acontecimentos que envolvem minha existência. Tudo dá pano para manga, associações grotescas, mas que estranhamente fazem o maior sentido para tudo o que anda acontecendo. O foda mesmo é saber que saber de tudo isso não é garantia de que algo mude, a não ser que você assuma sua responsa, coloque o corpinho na jogada, se implique, e faça as coisas realmente acontecerem por você.
É uma grande lição, eu acho, mas poderia ser um pouquinho mais fácil, né!, tipo uma pílula sem efeitos colaterais e com gosto de morango que fizessse tudo ter sentido dentro de uma hora depois de tomada... Quem nos dera, né, Freud...
A letra desta música do Biquini Cavadão, até falei dela umas postagens atrás, retrata bem o meu estado nestes tempos... então vai lá!

Título: Tédio - Biquini Cavadão

Sabe esses dias em que horas dizem nada
E você nem troca o pijama, preferia estar na cama
O dia, a monotonia tomou conta de mim
É o tédio, cortando os meus programas, esperando o meu fim

Sentado no meu quarto
O tempo voa
Lá fora a vida passa
E eu aqui a toa
Eu já tentei de tudo
Mas não tenho remédio
Pra livrar-me deste tédio

Vejo um programa que não me satisfaz
Leio o jornal que é de ontem , pois pra mim , tanto faz
Já tive esse problema, sei que o tédio é sempre assim
Se tudo piorar, não sei do que sou capaz

Tédio, não tenho um programa
Tédio, esse é o meu drama
O que corrói é o tédio
Um dia, eu fico sério
Me atiro deste prédio.


Tá falado...

terça-feira, 20 de abril de 2004

É, tá acabando... esta semana acaba o período de aulas da disciplina que estou - quase estava - cursando na pós. E agora, dentre as coisas socialmente aceitáveis como ocupação e que devem ser, necessariamente, fonte de ganho capital, me pergunto: "O que vou fazer?".

Pensando nesse momento enquanto parte de um processo, vou esperar até começarem novamente as inscrições para aprimoramentos e especializações, que sejam públicos, é claro, ou então mestrados, sejam em terra brasilis ou no além mar.

Agora, pensando enquanto necessidade, devo dizer que não posso esperar mais, pois esta condição anda sendo decisiva na manutenção da minha saúde mental. E digo porque: convivência em família depois de cinco anos fora de casa, tendo experimentado o gostinho da liberdade e desfrutado de uma vida dentro das suas covicções e rítmo, é realmente uma missão para adeptos do zen-budismo. Digo isso porque só tendo tanta paz de espírito para agüentar as implicações, histerias, moralismo e falta de noção da realidade... bem, essa é a minha situação!

Acredito ter razões para não estar muito contente no momento, por várias motivações, dentre elas a que acabo de descrever.

É isso aí, não basta estar desempregada, ainda estou longe dos amigos, sem dinheiro, sem conversas discontraídas, sem cafés da tarde, sem visitas inesperadas de quem no portão te recebe com um sorriso, sem os papos entre a fumaça verde, sem as noites intimistas de filmes com pipoca e colchã no chão, dividindo cobertores, porque andou fazendo frio nas noites de junho...

domingo, 4 de abril de 2004

Bem, como sou uma desempregada com pai e mãe, de vez em quando posso fazer uso fruto da minha parte na herança com pequenos momentos de lazer e descontração, o que significa que saí para a balada nesta sexta-feira e torrei a grana com breja.

A grande vantagem em se ser uma desempregada maior de idade é que você não tem que dar para sua mãe todas as coordenadas do lugar para onde vai, o número do telefone de pelo menos três amigos com o nome das respectivas mães, nem se comprometer a chegar antes da meia noite senão vai virar abóbora. Posso desfrutar daquele prazerzinho de quem já tá mais que desmamado é simplesmente dizer: "Mãe...tô saindo... Cadê a chave do carro?".
E o prazer aumenta ainda mais quando você está indo fazer uma balada gls... e como homossexual! Oh, delícia!

Pois é, depois de milhares de anos na seca de uma balada gay, finalmente consegui. Agora me pergunta: "Ficou com alguém?" E eu respondo: "Vai se foder!!"
Porque é claro que a lei do nosso amigo Murphy tinha que se fazer presente nesse momento. Quando saio decidida a beijar uma mulher, chove homem na minha horta. Fala, é um cocô ou não é? Já no caminho uns carinhas super gatinhos emparelham o carro com o meu e perguntam onde vou. E eu penso: "Eu não sei onde vou, mas vocês vão se foder!". Depois aconteceu uma coisa que me fez refletir profundamente sobre até que ponto pode chegar a imbecilidade humana.
Vamos combinar, existem baladas hetero, existem baladas gays e existem baladas gays femininas. Agora me fala, porque o maldito-bigode-impertinente-inconveniente tem que ir na balada gay feminina e ainda vir dar em cima de mim?! Provavelmente, pelo simples fato de ele ser um idiota, o que notei nas primeiras duas palavras que ele falou...
Se vocês perceberam alguma raiva nesta minha fala, não se enganem porque na verdade eu fiquei é muita PUTA mesmo, ainda por cima porque a mina-linda-estilosa-que-tava-dando-em-cima-de-mim foi embora enquanto eu estava no banheiro tomando coragem e pensando em alguma coisa pra falar quando me aproximasse. CO-Cô!
E já que a mina-linda-estilosa-que-tava-dando-em-cima-de-mim foi embora, fui tentar a sorte com outra e comecei a trocar olhares e sorrisos com uma mina que estava dançando em rodinha com suas amiguinhas. Rolou um embaço, mas de repente a rodinha deslocou-se inteira, num movimento bem pouco sutil, para perto de onde eu estava. Logo pensei: "Agora vai!" E eis quando crio coragem e chego na mina perguntando se ela gostaria de dançar comigo, a belezinha me fala: "Ai...é que essa música é especial para mim...eu quero dançar sozinha...". O que me vem na cabeça na hora: "HISTÉRICA!!". Mas é claro, ficou dando o maior mole, depois me vem com essa. Ah, faça-me o favor!!
Bem, fora os contra-tempos, a balada foi muito legal, música boa o tempo todo, pessoas bonitas e agradáveis. Com certeza voltarei de novo, mas espero ter mais sucesso nas minhas próximas investidas. Acho que eu tava meio enferrujada...Me fodi!

P.S.: É claro que eu não falo com a minha mãe daquele jeito, tão loucos...

quinta-feira, 1 de abril de 2004

São incríveis as coisas com que a gente passa a se preocupar quando não temos mais nada para fazer, quer dizer, naqueles momentos em que não estamos questionando nossa existência nesse mundo capitalista e você, mais do que nunca querendo fazer parte dele. O negócio é que ando seriamente pensando em mandar um e-mail fazendo uma reclamação para uma emissora de TV à cabo que tirou um dos meus desenhos preferidos do ar. Que que é isso, é um absurdo!

Dr. Katz é uma animação que conta o dia a dia de um terapeuta de competência duvidosa, solteirão, com uma secretária totalmente alienada do trabalho e que o maltrata e um filho de 25 anos que ainda mora com o pai e cujo intelecto diz que ele continuará nessa situação ainda por muito tempo; e não posso esquecer dos seus pacientes, fantásticos!, que narram suas loucas e desequilibradas vidas, tão iguais a de tantos por aí. Tá certo, tem uns muito loucos, que nem a mina que o marido sofre de SÍNDROME DE GELADEIRA: quando ele vai procurar alguma coisa na geladeira, apesar de estar na cara dele, ele não consegue ver. E o melhor é a mulher contando isso com uma voz anasalada e como se este absurdo fosse a coisa mais normal do mundo...

Por que tirar do ar um desenho que mostra a vida de um trabalhador medíocre, como tantos, mas cuja profissão o colaca em situações inusitadas e em contato com pessoas mais inusitadas ainda. Vou exercer meu direito de consumidora e reclamar!

Ainda em relação à televisão, meu passatempo preferido já que eu não tenho um puto nem para tomar um café do carrinheiro ambulante, encontrei no guia da TV a cabo mais uma fonte de humilhação e privação pela falta de dinheiro. O guia mostra a programação de todos os canais existentes e aí você é obrigado a ver que naqueles canais os quais não tem acesso, estão passando os filmes mais legais, os documentários mais interessantes e atuais, o show do seu cantor ou banda preferida, aquele filme que você não encontra nem a pau nas locadoras do bairro porque o mesmo carinha dono da locadora que não compra fita legendada porque não tem saída e, portanto, não lhe dá dinheiro, não quer arriscar comprar um filme que, apesar de muito bom, não vai ser apreciado pelos clientes. É, porque filme bom não quer dizer que vai ser assistido, o que vale é se o ator é da moda, bonitinho, se a atriz é gostosa... atuação, não precisa ser boa, pra quê! Vamos combinar que uma galerona tem esse pensamento, vai!

É isso, para o carinha da locadora (como para muitas outras coisas) não importa que você tenha possibilidade de escolha, mas sim que ele diminua os riscos e aposte na certeza de ganhar mais e mais grana com seu negócio, mesmo que o que ele esteja comercializando seja um lixo. E não adianta falar que filme é uma questão de gosto, pois realmente tem para tudo, porque também por isso ele deveria dar maior POSSIBILIDADE DE ESCOLHA!

No momento, eu gostaria de escolher ficar em casa sem fazer nada o resto da vida e ganhar pra isso.

Sonhar não custa nada...


Filmes da semana:

Jerry Maguire (ria da tragédia da vida alheia e aprenda que deve sonhar com os pés na realidade)
Billy Eliot (no meu caso, impossível não se identificar com o dilema sexual)
Os últimos passos de um homem (Shan Penn e Susan Sarandon, o tempo todo; uma freira avançadinha)