quinta-feira, 1 de abril de 2004

São incríveis as coisas com que a gente passa a se preocupar quando não temos mais nada para fazer, quer dizer, naqueles momentos em que não estamos questionando nossa existência nesse mundo capitalista e você, mais do que nunca querendo fazer parte dele. O negócio é que ando seriamente pensando em mandar um e-mail fazendo uma reclamação para uma emissora de TV à cabo que tirou um dos meus desenhos preferidos do ar. Que que é isso, é um absurdo!

Dr. Katz é uma animação que conta o dia a dia de um terapeuta de competência duvidosa, solteirão, com uma secretária totalmente alienada do trabalho e que o maltrata e um filho de 25 anos que ainda mora com o pai e cujo intelecto diz que ele continuará nessa situação ainda por muito tempo; e não posso esquecer dos seus pacientes, fantásticos!, que narram suas loucas e desequilibradas vidas, tão iguais a de tantos por aí. Tá certo, tem uns muito loucos, que nem a mina que o marido sofre de SÍNDROME DE GELADEIRA: quando ele vai procurar alguma coisa na geladeira, apesar de estar na cara dele, ele não consegue ver. E o melhor é a mulher contando isso com uma voz anasalada e como se este absurdo fosse a coisa mais normal do mundo...

Por que tirar do ar um desenho que mostra a vida de um trabalhador medíocre, como tantos, mas cuja profissão o colaca em situações inusitadas e em contato com pessoas mais inusitadas ainda. Vou exercer meu direito de consumidora e reclamar!

Ainda em relação à televisão, meu passatempo preferido já que eu não tenho um puto nem para tomar um café do carrinheiro ambulante, encontrei no guia da TV a cabo mais uma fonte de humilhação e privação pela falta de dinheiro. O guia mostra a programação de todos os canais existentes e aí você é obrigado a ver que naqueles canais os quais não tem acesso, estão passando os filmes mais legais, os documentários mais interessantes e atuais, o show do seu cantor ou banda preferida, aquele filme que você não encontra nem a pau nas locadoras do bairro porque o mesmo carinha dono da locadora que não compra fita legendada porque não tem saída e, portanto, não lhe dá dinheiro, não quer arriscar comprar um filme que, apesar de muito bom, não vai ser apreciado pelos clientes. É, porque filme bom não quer dizer que vai ser assistido, o que vale é se o ator é da moda, bonitinho, se a atriz é gostosa... atuação, não precisa ser boa, pra quê! Vamos combinar que uma galerona tem esse pensamento, vai!

É isso, para o carinha da locadora (como para muitas outras coisas) não importa que você tenha possibilidade de escolha, mas sim que ele diminua os riscos e aposte na certeza de ganhar mais e mais grana com seu negócio, mesmo que o que ele esteja comercializando seja um lixo. E não adianta falar que filme é uma questão de gosto, pois realmente tem para tudo, porque também por isso ele deveria dar maior POSSIBILIDADE DE ESCOLHA!

No momento, eu gostaria de escolher ficar em casa sem fazer nada o resto da vida e ganhar pra isso.

Sonhar não custa nada...


Filmes da semana:

Jerry Maguire (ria da tragédia da vida alheia e aprenda que deve sonhar com os pés na realidade)
Billy Eliot (no meu caso, impossível não se identificar com o dilema sexual)
Os últimos passos de um homem (Shan Penn e Susan Sarandon, o tempo todo; uma freira avançadinha)

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