terça-feira, 4 de janeiro de 2005

Não sei se já comentei da relação de amor e ódio que sinto pelas telenovelas. Restrinjo-me aqui àquelas exibidas pela Rede Globo. Bem, dos males o menor, né, ou, tecnicamente falando, redução de danos.
As coisas que me fazem considerar gastar importantes horas da minha vida sentada na frente de um eletrodoméstico para ver novela alguma coisa que valha a pena, para dizer a verdade, não vêem acontecendo. Boas histórias, sendo desenvolvidas sem o uso de clichês e sem, o que parece impossível, estereótipos; atores de atuação verdadeira, dando ao personagem um frescor, uma espontaneidade, que realmente te passam a ilusão de estar participando da história, assim como acontece quando lemos um livro e vivemos com o herói todas as suas emoções; ausência de propagandas, que fazem o autor dar malabarismos e inventar situações totalmente despropositadas só para mostrar um maldito produto de alguma marca que fica recebendo falsos elogios dos personagens; casais com juras de amor piegas, frases feitas, nada de belas conquistas, troca de olhares, rostos ruborizados, inocência e paixão misturadas, muito mão naquilo, aquilo na mão, corpos e rostinhos bonitos mais valorizados que qualquer sentimento...
Reflexo do mundo medíocre em que vivemos, as novelas vendem sonhos que a grande maioria das pessoas não podem comprar e veiculam ideais e estilos de vida que nossas diferenças de classe social não nos permitem compartilhar. As novelas mostram nossas desigualdades quando divide seu elenco em núcleos: o rico, o pobre e a nebulosa, porém não menos importante, classe média. Em cada um brinca-se de bem e mal, cada um em seu lugar, à sua maneira, ou como a sua condição o permite ser.
As novelas são exatamente o que elas foram criadas para ser: uma projeção dos nossos tempos, dos nossos jeitos, das nossas opiniões; um duro retrato animado de cada uma das nossas mil faces.

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