terça-feira, 4 de janeiro de 2005

Há três dias a cidade chora como se lhe tivesse sido arrancado algo fundamental. E não há mais como recuperá-lo.
Há tempos não verto lágrimas por nenhuma razão. O choro ou tristeza deu lugar a uma raiva descabida, que esquenta as meninges de tanto que me esforço para conter esse ódio que pulula no peito e enche as veias de sangue quente, até as pontas dos dedos. É o momento exato em que as mãos se fecham e te dá aquela vontade de socar, esmurrar a primeira coisa que estiver na frente, seja ela inanimada ou então o nariz do primeiro infeliz que te dirigir a palavra.
Mas não; apesar de sentir minhas células se multiplicando desenfreadamente de tanta agonia por ter que conter tal fúria, por não poder disparar nem sequer umas míseras seqüências de potenciais de ação, devo conter este sentimento que faz tão parte de nós quanto qualquer outro, mas que a sociedade varreu para a gaveta das coisas indesejáveis no modo de ser humano.
Apesar de ser incontestavelmente a favor do diálogo, reconheço que em algumas situações, sair na porrada parece ser a melhor atitude a ser tomada, menos por achar que isso dará uma lição em alguém, mas mais para descarregar, ou melhor, dar vazão ao ímpeto de destruição que atropela qualquer senso de razão.
Vejam, neste momento estou aqui tentando reverter meus impulsos para o papel, queimando alguns neurônios me preocupando com acentuação e pontuação, gramática e conjugação, fazendo aquilo que tenta tornar cada vez mais distante o nosso lado animal: estou eu aqui sublimando, fazendo força para manter meu lado humano com o mínimo de dignidade e resignação, tolerância e paciência.
E quando nada mais funcionar...?

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