terça-feira, 15 de junho de 2004

A emoções não são regidas pelas mesmas leis que regem a existência humana.
O homem criou e adotou o tempo como um dos principais eixos de referência e fundou, com isto, a História. Mas ao fazê-lo criou também para si uma prisão sem muros. Vivemos aprisionados ao presente, ansiosos por um futuro incerto que desfará as certezas do passado. Nosso corpo é nossa cela, e o que nela habita, ali fica e persiste em ser o que é, mesmo fantasiado, travestido ou disfarçado, faz de nós (cada um) o que somos, invariavelmente mutantes.
O que por vezes escapa a esta cela são as emoções. Estas, ao contrário, desconhecem o tempo e podem, a qualquer momento, como observou Freud em sua obra, irromper tão intensamente quanto no momento primeiro em que se deu, como a sua lembrança mais triste da infância ainda te leva as lágrimas como se tivesse acabado de acontecer.
Certos fatos vividos fazem reféns emoções que, por sua rebeldia, não se manterão assim, e escaparão, seja lá como for, de uma forma ou outra, amanhã ou daqui a 20 anos.
O que trancafiei aos 4 anos (*), hoje, aos 24, ainda corre a canequinha pelas grades tentando me chamar a atenção. E enquanto eu me mantiver aqui, firme, soldado raso que apenas obedece as ordens de um superior desconhecido, alienado embaixo do capacete, não haverá chance de qualquer emoção que seja encontrar a saída certa dessa incabível prisão.

(*) chute cronológico

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