segunda-feira, 5 de julho de 2004

Não sou mais capaz de fazer reflexões sobre a vida que me levem além da realidade dos fatos, que me faça alçar pequenos vôos que tirem meus pés da solidez para atingir a fluidez dos ares.
Já não tenho asas. Meu poder de transmutar as moléculas do meu corpo e levá-las ao mesmo estado do pensar tem falhado nas últimas tentativas que fiz antes de dormir.
Não consigo nem mesmo olhar e dizer o que vejo, como o cego de infância que volta a enxergar e não é capaz de distinguir o mundo pelo olhar por ter estado até então preso ao toque, invadido pelos odores e inquieto pelos sons.
Sinto-me como o desinformado que está sempre por fora. No momento estou por fora, mas por que estar por dentro se tudo que lá encontro é o vasto labirinto insolúvel de conexões frágeis, inconsistentes?
Já não me assusto mais com os tropeços e as consequentes quedas, mas já me cansa ter que levantar.
Imagino as moscas com as patinhas grudadas na invenção de um cuzão vingativo que ainda ganhou uma grana patentiando sua arma mortal.
Vejam, falo aqui em nome da mosca. Falo em nome das vítimas da insensibilidade. Estou sem senso. Sem lenço nem documento. Estou sensível.

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