Sabe aquele momento nas entrevistas chamado "ping-pong" ou "jogo rápido", onde se lança uma pergunta e a resposta deve ser breve? Então, sempre perguntam: Arrependimento? Por muitas vezes ouvi pessoas respondendo que não se arrenpendiam de nada, que não devemos nos arrepender das coisas que fazemos e imendavam uma lista enorme de conselhos tirados, provavelmente, dos livros de auto-ajuda.
Aí, eu, jovem telespectadora, ficava me achando a pessoa mais imprestável do mundo porque, assim que se fazia a pergunta, já ia pensando num cem número de coisas das quais me arrependia profundamente de ter feito, não feito, falado, não falado... Em consequência, minha autoestima caía a zero e eu, mais uma vez, me igualava às hienas africanas que vivem da podridão. Oh, céus! Que drama.
Isso só soma mais uma coisa da qual eu me arrependo, a de ter tomado a verdade dos outros como minhas e ficar me arrependendo daquilo que nunca fui por estar sendo eu mesma.
Se arrepender não precisa ser uma coisa horrível, daquelas "vamos falar de outro assunto, por favor". Tem algumas coisas das quais fico feliz de me arrepender, aquelas que se cospe pra cima e acaba caindo bem no meio da testa, por exemplo:
* Ter recusado convites para sair, fazer balada ou outros eventos por vergonha de não saber dançar e, principalmente, porque achava que eu era a pessoa mais sem assunto do mundo e acabaria criando situações chatas, de silêncios incomôdos. Hoje, tendo condições, não recuso um só convite para ocasiões que me pareçam uma boa oportunidade para conhecer, ver ou rever pessoas.
* Ter pensado e falado mal da região sul do país, a qual acreditava que não tinha nada de interessante e de que seus habitantes não passavam de pseudo-europeus que excumungavam seus ancestrais por terem vindo para um país sub-desenvolvido. Para minha grande surpresa e, porque não dizer, sorte, uma estadia de quatro dias em Porto Alegre me fez mudar radicalmente de idéia, a ponto de passar a pensar seriamente em viver naquela cidade maravilhosa, com pessoas educadíssimas e lindas.
* Ter deixado de posar para muitas fotos das quais tirei e ter a sensação, vendo-as hoje, de não ter feito parte daqueles momentos. Hoje em dia sou figurinha carimbada, adoro aparecer nas fotos, tanto minhas como de amigos ou de qualquer um que não se incomode com a minha presença no enquadramento.
Se arrepender é um exercício de tolerância consigo mesmo. E ele te dá oportunidade de fazer diferente, acho que isso é importante, a partir do momento em que você se arrepende você pode escolher mudar.
Se arrepender, para mim, é como me dar uma nova chance de sentir e viver as coisas para as quais, em outros momentos, estava insuficientemente atenta para perceber que haviam nelas um sentido de existirem ou de serem como são.
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