segunda-feira, 10 de maio de 2004

Uma daquelas coisas difíceis de explicar é o nosso gosto por música.
As infindáveis possibilidades de construção de uma canção, levando em conta o conjunto de sons, tons, notas, tempo..., faz nascer um número tão vasto de estilos e rítmos que fica até difícil dizer qual o som que mais se gosta.
Tudo bem, eu sou daquelas que na frente do nome está um sinal de igual e depois vem escrito "dúvida", o que não me faz a melhor pessoa para fazer escolhas, então prefiro, no que diz respeito a música, me considerar uma pessoa eclética - talvez para aliviar minha insegurança... mas sobre isso eu falo outra hora.
Pois bem, o que estou querendo dizer é como eu acho incrível que seja possível certas identificações com um determinado tipo de música. E nesse campo, é fato, não existem fronteiras e/ou barreiras.
Neste caso me considero um bom exemplo. Não sei se é falta de sensibilidade nos ouvidos, mas tenho, na mesma lista de reprodução, sons que vão de Renato Teixeira, passando por The Smiths, Tracy Chapman, Evanescence, até a minha mais recente paixão auditiva, Souad Massi. Trata-se de uma cantora argelina, que se refugiou na França e lá passou a colocar em melodias todo seu sentimento e emoção no mais belo estilo...árabe!
E aí se explica, ou melhor, não se explica, o que me faz gostar desse som composto por instrumentos estranhos e numa língua completamente incompreensível que não me permite, sequer, imaginar qual o assunto que está sendo tratado na música. O que posso dizer é que quando a ouço cantando me desperta aquele sentimento que comumente nos referimos como COISA. É isso, me dá uma COISA que vem de dentro e se espalha pelo corpo inteiro, cada póro, provocando um certo arrepio e um sentimento de "bem-estar", ou seja, desperta coisas também inexplicáveis, que sentimos não sabemos bem como nem porque.
Será esta a mesma coisa o que explicaria dentre tantos bilhões de habitantes neste planeta, encontrarmos um(a), aquele(a) que se vê (ou não se vê, porque os cegos também amam), se conversa ou, sei lá, aquele(a) que quando se dá conta, já era, acende a luzinha e vem aquele pensamento: é isso!!
Vejam bem, não estou considerando aqui nenhuma relação de tempo envolvidas neste fenômeno, só estou pensando mesmo no momento em que acontece. E eu me lembro bem do momento em que me apaixonei por Souad Massi: ouvi sua bela voz ao acordar no meu segundo dia de estágio numa clínica psiquiátrica na França, depois de um dia extremamente cansativo em que não entendia uma só palavra que me era dirigida.
E do desespero da incompreensão absoluta, aquelas melodiosas frases em árabe me disseram tudo o que eu precisa ouvir: a melodia, as notas, os tons, nem mesmo as palavras explicam; o que melhor se explica é aquilo que se sente.

Nenhum comentário: